ORIGENS DE SYMPHONIAE por Ana Finel Honigman

Symphoniae é a série atual de obras de Elizabeth Dorazio feitas com Al Khous, em colaboração com as mulheres beduínas de Abu Dhabi e Ras Al Khaimah, como uma homenagem à cultura local e uma investigação do papel da humanidade no cosmos. A inspiração para Symphoniae foi a rica tradição oral das mulheres da Península Arábica. Na cultura beduína, histórias escritas são raras, mas as mulheres passam as histórias de geração a geração através de seus círculos de tecelagem. Desta forma, esta tradição oral imbui o artesanato Al Khous de uma importância espiritual e cultural que transcende a beleza aparente. Dorazio, uma experiente artista brasileira baseada em Abu Dhabi, incorpora tecelagens feitas pelas artesãs beduínas com as folhas de tamareiras a suas obras, compondo com suas pequenas pinturas e outros objetos.

Ao descrever seu processo, Dorazio explica: “No centro de artesanato em Abu Dhabi, eu me sento junto às artesãs e enquanto elas tecem, escuto-as contarem suas histórias. Elas recitam poesias, falam sobre fatos que aconteceram durante suas vidas ou de seus ancestrais. Contam histórias sobre os beduínos, que, quando atravessavam o deserto, eram orientados apenas pelo vento e pelas estrelas. Contam como eram guiados por mapas celestiais e como buscavam a direção através das estrelas.

Ao incorporar as formas tecidas pelas artesãs beduínas a suas obras, Dorazio consegue enxergar nestas formas espirais o símbolo do discurso que presencia. As espirais seriam como símbolos intelectuais e também representariam a natureza do tempo, que começa em um determinado ponto e vai se desenrolando ao redor de si, expandindo-se metafisicamente como o próprio universo. Ela intitula a série de Symphoniae como uma homenagem multicultural à definição original da palavra em grego antigo, ou seja, um acordo ou uma concordância dos sons”.

Neste contexto, a palavra representa a tradição oral das mulheres. Para Dorazio, as histórias das mulheres beduínas se relacionam (à) a nossa própria jornada pessoal, tornando-se uma metáfora para a vida em nosso mundo globalizado. Seria como nossa jornada pela vida, na qual tentamos visualizar nossa localização geográfica, seguindo a rota que nos conduz a nosso destino final e, ao mesmo tempo, buscando respostas (às) as nossas questões existenciais.

Ana Finel Honigman
Historiadora de Arte

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