EXPOSIÇÃO: CENTRO CULTURAL SÃO PAULO – 1999 por Maria Isabel Branco Ribeiro

O trabalho de Elizabeth Dorazio tem suas bases no desenho rigoroso aprendido na Escola Guignard em Belo Horizonte, que perpetua o conceito de precisão gráfica como alicerce da produção plástica preconizado pelo mestre fluminense radicado em Minas Gerais.

Foram fundamentais para a formação da artista as muitas horas de observação atenta. O estudo disciplinado do modelo vivo e o traçado com grafite 6H, tão macio quanto a ponta de um prego trouxeram-lhe a compreensão do contorno, a pureza da linha, a espontaneidade do gesto e, principalmente, o distanciamento de recursos que desviassem a atenção do que não fosse desenho.

Seus primeiros trabalhos em pintura apresentavam de modo explícito esses aspectos ao confrontar linha e zonas de cor, retratando atletas se exercitando diante de paisagens bem delineadas.

Pouco a pouco a descrição do ambiente foi ganhando predominância em relação à figura humana e mais tarde um recorte dessa paisagem passou a ocupar toda a superfície da tela: a vegetação.

Nesse percurso seu uso de cor mereceu maior empenho e ganhou características matissianas, não apenas nos contrastes vibrantes e no caráter associativo das escolhas, mas também na intenção de, ora destacar o primeiro plano, ora enfatizar o aspecto bidimensional, aproximando-se de padrões de estamparia.

Nas pinturas agora apresentadas o cuidado com a bidimensionalidade é basicamente visual, distante da ilusão do espaço representado no plano e propositadamente não coincide com a superfície lisa da tela.

Significa a construção da cor pela sobreposição de camadas pictóricas e quem sabe até de paisagens. Comporta a adição de pedaços de gaze, renda e pequenos objetos, que sepultados por camadas de tinta, compõem a derme do que o gesto feito a pincel irá determinar.

Seu desenho exato e rápido faz surgir novas linhas do horizonte, enquanto tratados de botânica, fotos, frutas e flores reais se espalham pelo ateliê, antúrios, peônias, jasmins e folhagens se materializam na tela, como Alices depois de provar a garrafa mágica no país das maravilhas. Seu traço expontâneo faz com que flores desabrochem imensas, quase apertadas entre teto e chão, mas não ameaçadoras, enchendo de luz e cor os olhos e corações de quem as vê.

Maria Isabel Branco Ribeiro
Curator and Researcher

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