A DESCONSTRUÇÃO DO OBJETO por Elizabeth Dorazio

Construo meu trabalho artístico em camadas. São planos arquitetônicos que constituem a primeira fase de todo o processo. Sobreponho campos de cores, camadas de papel transparente e desenhos. Cada camada tem a sua própria linguagem estética e forma particular.

Desenho estruturas orgânicas, células, fibras, veias, órgãos. Estas estruturas possibilitam que eu faça referência ao que não está na superfície.

Trabalho de forma simultânea, adicionando dimensões, criando organizações estruturais, recortando, dissecando como em uma pesquisa anatômica. Descrevo topografias, revelo sistemas e estabeleço uma relação entre eles. Se trata de revelar e ocultar formas criando assim um complexo mosaico, onde investigo a origem das sensações e percepções nas camadas multíplices de lugar, espaço e tempo que influenciam a formação da identidade pessoal e coletiva. Uma cartografia psicológica onde pensamentos se desdobram como ondas eletromagnéticas criadas por um cérebro que simula a realidade e histórias de vida.

Como um todo, meu trabalho parece curvilíneas abstrações, e que me faz recordar de um poema:

O poema da curva
Não é o angulo reto que me atrai
Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem
O que me atrai é a curva livre e sensual,
A curva que encontro nas montanhas do meu país,
No curso sinuoso dos rios,
Nas ondas do mar,
No corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo,
O universo curvo de Einstein.

(Oscar Niemeyer fev.1988)

A percepção do trabalho está baseada na simultaneidade: visto de longe, tudo se converge, visto de perto, o desenho é fragmentado em eventos individuais. Consequentemente, o observador tem que se mover na frente da obra. O processo da percepção se dilata e enriquece no ato da aproximação e do afastamento.

Meu intuito é que as pessoas, ao se aproximarem, emerjam nos detalhes, como um mergulhador que penetra a superfície. Explora viajando através de paisagens, universos, de um mundo profundo.

São também estas as sensações do meu processo criativo.

A natureza se repete em diversos graus e modos, o microcosmo pode ser um detalhe do macrocosmo e vice-versa. Uma veia pode ser um coral ou um rio. Supostas esponjas marítimas podem ser um cérebro, e uma gota d’água pode ser um planeta coberto por um sutil veu atmosférico. Tudo depende do ponto de vista de cada um.

Elizabeth Dorazio
(Agosto/2009)

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