EXPOSIÇÃO: ESCRITORIO DE ARTE ROSA BARBOSA SÃO PAULO – 1998 por Nancy Betts

To see a World in a grain of sand
And a Heaven in a wild flower,
Hold Infinity in the palm of your hand
And Eternity in a hour.
W. Blake

No âmbito contemporâneo do desenho, que pode ir da linha construída com ferro ao mais tênue fio de bordado, os trabalhos de Elizabeth Dorazio enveredam por caminhos que afirmam as tramas tradicionais do desenho. Executados com lápis, caneta esferográfica, aquarela e guache, oferecem uma trajetória que explora uma vasta gama de registros técnicos. Em alguns, a linha é seca, aguda, firme, leve e limpa, noutros ela lateja, tremula, hesitando em se mostrar, índices que especulam o devir da forma-visualidades em processo. Como na música, as séries evidenciam o desenrolar de uma construçãovariações sobre o mesmo tema – que vai da linha à pincelada, do desenho à pintura. Observa-se a vontade de experimentar a arquitetura do desenho: um percurso que se desenvolve dos desenhos, onde só usa o lápis na elaboração de delicados contornos, até a gradativa adição da cor, culminando na exuberância da pincelada que organiza a forma.

Cada desenho tem sua especificidade, conta uma história. São flores, frutos, uma folha caída, troncos de árvores, uma cadeira vazia, um detalhe do parque; fragmentos isolados que o olhar do cotidiano já não registra mais, seja pela sua simplicidade, seja pela sua familiaridade com esses signos. A busca da intimidade deste microcosmo revela um desejo de romper com esta cegueira, fazer com que a realidade sensível seja trazida a primeiro plano por um zoom intencional. Descontextualizado, o objeto revela um estranhamento e adquire uma revalorização enfatizada por vibrações cromáticas ou irregularidades/diversidades de texturas, apreendendo e encantando assim este olhar vazio.

Tudo parece harmonia de forma e cor para o olhar desavisado e, pouco a pouco, ele se depara contemplando um texto desenhado timidamente. Afirmações ou interrogações dialogam com a imagem ou com o expectador? São proposições de esclarecimentos ou de dúvidas? O texto requer um tempo diferente, introduz um enigma, o qual pela sua permanência possibilita uma ressonância, uma intimidade com a linguagem e uma dialética de subjetividades. O leitor vê que os objetos da tela estão impregnados de emoções, de uma grandeza íntima, singela… a grandeza da própria natureza do desenho.

Nancy Betts
Historiadora e crítica de arte

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