DESENHOS & EDIÇÕES por Ricardo Resende

Beleza Beleza. Mil vezes beleza para descrever inevitavelmente as séries de trabalhos da artista Elizabeth Dorazio que, literalmente, se joga na natureza em suas colagens. Nas visões do obra que nos apresenta, a artista é abrigada pelas folhas grandes, flores enormes, pelos troncos gigantescos das plantas e pela exuberância da natureza. Suas colagens fotográficas são intuição simbólica e total da visão natural do mundo. Paisagens que colocam o humano na condição de um estranho observador do mundo vegetal e aquoso. A conjunção representa um verdadeiro Jardim do Éden nas duas séries, “I went on a trip”, de 2020 e 2021 e “On Nature”, de 2019 e 2020.

Na série “I went on a trip”, colagens sobre papel e cópia digital, as paisagens beiram o fantasmagórico observado pela própria figura da artista, estrategicamente colocada em cada colagem fotográfica. Uma visão romântica e cósmica, sem dúvida, das florestas, matas, rios, montanhas, nuvens, céu, luz, sombras e fauna. Belas visões de mundo, é o que a artista nos proporciona. Se veste da pequenez humana diante da grandiosidade da natureza nas imagens que cria ao se colocar diminuta na paisagem inventada, transfigurada e exagerada e, em algumas situações, as flores e as plantas que tomam ares de carnívoras, parecem prestes a engoli-la. A artista se coloca na condição de mera observadora do mundo fantástico das plantas.

O humano nada mais é do que uma célula, um átomo ou um grão de areia vivo nesse universo que compõe a Terra. É um pensamento romântico que fica evidente nas suas colagens paisagísticas e nos desenhos colagens de folhagens da Série “On Nature”. Nessa série fica de fora do quadro, como se diz de uma fotografia ou de uma pintura, como observadora. Transparências são criadas nas camadas e camadas cuidadosamente deitadas umas sobre as outras. Cria camadas pictóricas, translúcidas, sedosas e quentes para o olhar. Suas colagens misturam idealismo com o realismo e o fantasmagórico (o inimaginável, a invenção), misturando a espiritualidade humana com a da natureza em sua obra. Uma conjunção sublime na arte.

Ricardo Resende
Curador Museu Bispo do Rosário Arte Contemporânea

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